A Sainte Chapelle e a reversibilidade entre a ordem católica e a ordem monárquica
Catedrais Medievais

A Sainte Chapelle e a reversibilidade entre a ordem católica e a ordem monárquica


Luis Dufaur




A Sainte Chapelle foi mandada construir pelo rei da França São Luis IX (1214 – 1270), na metade do século XIII, em Paris, capital de seu reino.

São Luis foi um monarca santo em quem se fundiram duas dimensões: a política e a religiosa. A Sainte Chapelle permite, entre outras coisas, compreender melhor a reversibilidade dos dois aspectos no rei santo.

Um rei construtor, um rei-sacerdote – no senso da missão sacerdotal da aristocracia definido pelo Papa Bento XV – um rei cruzado, um rei santo, um rei modelo que deixou uma das mais belas joias da arquitetura da Idade Média.

A Sainte Chapelle é um magnífico livro de imagens que atravessou oito séculos, não sem arrostar grandes perigos.

Os reis da França na Idade Media eram ungidos pela Igreja e, portanto tinham também uma missão religiosa. A unção dos óleos sagrados marcava a origem divina da autoridade suprema do reino.

Essa associação entre a monarquia e a religião católica ajuda a compreender a Sainte Chapelle.

A comunicação de Deus com o povo e o reino passava através de São Luís. Ele devia proteger o povo cristão, propagar o cristianismo, defender o clero e conduzir seu povo rumo à Jerusalém celeste, rumo a salvação eterna.


Estas características que não brilham nos governantes modernos descristianizados faziam parte do normal da vida quotidiana medieval. E os reis, São Luís em especial, levavam muito a sério.

O historiador André Vauchez sublinha que na Idade Média havia três grandes poderes: o Papa, o imperador do Sacro Império Romano Alemão e o rei da França.


No tempo de São Luis uma infeliz luta opunha os dois maiores poderes. Mas, São Luis apoiou o Papa e foi se transformando num mediador, dotado de carismas divinos, para orientar os rumos da Cristandade.

Essa missão brilhantemente cumprida no respeito dos direitos e prerrogativas de seus superiores – o Papa e o imperador – foi como que consagrada por um evento único.

O imperador de Constantinopla acabrunhado de dívidas lhe ofereceu ser o guardião da Santa Coroa de Espinhos, em troca de um auxílio econômico excepcional.

De fato a transação foi extraordinária, diz a historiadora italiana Chiara Mercuri. O rei engajou a metade do orçamento anual do reino para leva-la para o reino da Filha Primogênita da Igreja.

A preciosíssima relíquia chegou à França em 1239. O bispo de Sens recebeu a Coroa de Espinhos na fronteira do reino e São Luis e seu irmão, o Conde de Artois, conduziram-na em procissão até Paris.

Em 1241, o rei obteve também um fragmento importante da Santa Cruz e outros instrumentos importantes da Crucifixão, como a Santa Lança e a esponja. Dessa maneira passou a deter o mais belo tesouro de relíquias da Cristandade que tocaram no próprio Corpo de Cristo.

As relíquias foram instaladas no centro do palácio real, diz Vauchez. Esse gesto de piedade elevou a capital do reino a uma dimensão religiosa.

Paris já era a cidade mais importante da Cristandade pela sua arte, pela sua nova Universidade e nela São Luís mandou construir a Sainte Chapelle no centro de seu palácio para albergar as sagradas relíquias.

A capela que mandou fazer devia ser uma obra mestra da arte gótica que naquela época atingia a perfeição.

Ela foi feita aproveitando a experiência adquirida com as grandes catedrais. Na Sainte Chapelle os muros foram reduzidos ao mínimo, explica Markus Schlicht, historiador de arte, para instalar imensos vitrais.

Não se conhece quem foi o arquiteto da Sainte Chapelle nem mesmo a data exata em que começou a ser levantada. Os medievais não se preocupavam com a nomeada pessoal, mas com a glória de Deus, e não nos deixaram seus nomes.

A Sainte Chapelle se compõe de duas capelas. A capela baixa para os empregados do castelo, e a capela alta reservada para a família real que se ligava por um corredor com o palácio.

Em certa medida era a capela privada da família real, explica Pierre-Yves Le Pogam, comissário da Exposição São Luis. O rei acordava secretamente na noite para ir rezar nela.

São Luis se recolhia diante da Coroa de Espinhos e as santas relíquias para decidir as leis, os julgamentos e a direção que ele imprimiria a todo o seu reino, para felicidade de seu povo.


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continua no próximo post: Sainte Chapelle: capela do rei da França, custódio da Coroa do Rei dos reis




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