Paradoxo harmônico da catedral gótica: esplendor dos vitrais X penumbra da pedra
Catedrais Medievais

Paradoxo harmônico da catedral gótica: esplendor dos vitrais X penumbra da pedra


Numa catedral gótica há uma coisa que está tão bem imbricada que as pessoas não percebem bem. Não é uma contradição, mas é a antinomia.

Na catedral há um magnífico paradoxo feito de harmonias extraordinárias.

Imaginemos um vitral soberbo numa hora em que o sol penetra na catedral.

Penetra um esplendor que dá tudo quanto a criação feita por Deus e aprimorada pelo talento humano pode dar de luminoso, vivo, positivo e maravilhoso. Isso é o contributo do vitral.

Enquanto o vitral é esplendoroso de alegria, a parte de pedra da catedral é plutôt recolhida, discreta, meditativa, esforçada, penitencial, monacal.



Pondo no monacal essa carga do homem que em ordem e com muita linha carrega uma dor, um peso, um fardo um sofrimento.

Há uma superior harmonia entre os aspectos gaudiosos, esplendorosos e ressurgentes da vida humana e os aspectos tristonhos, discretos, sofridos, amargurados que a vida humana comporta também.

Quando o sol sai, as colunas continuam meditativas, saudosas, sofridas, agüentando o peso do teto, da torre, de tudo, numa fidelidade incomovível, até o momento em que o sol volta a brilhar de novo e elas se acendem e tomam ânimo para continuar.

O sol não seria bem compreendido a não ser pela penumbra das ogivas.

Mas, por outro lado, essas penumbras seriam um purgatório se não fosse o esplendor do sol.

Há uma complementação mútua estupenda que dá os dois aspectos da alma humana.

De um lado a alegria pura, jubilosa, quase infantil, que é tudo quanto a inocência vê quando ela se põe nas irradiações de seus primeiros esplendores infantis.

Depois há o peso da vida em cujas penumbras a luz da inocência é destilada, trabalhada, aprimorada.

Há um equilíbrio de alma na catedral onde o excesso de luz do vitral é tamisado pelas penumbras acumuladas na igreja durante a noite. Mas o excesso da penumbra é espancado pela luz que entra.

A alma que cultiva em si esses contrastes harmônicos é uma alma voltada para Deus. Ela só encontra sua decifração em função de um mundo transcendente, infinitamente bom, e de um Paraíso, de um Céu empíreo, e de um Paraíso terreno que ficou.

O vitral é o esplendor da mística. E, mais alto ainda, é uma imagem da fé que nos mostra que nada se entende se não for em função do mais alto do Céu onde paira Deus onipotente, uno e trino.

O conjunto desses estados de espírito dá o espírito da Igreja.

Toda a Idade Média de um modo ou de outro está incluída nisso: Saumur e o Mont Saint Michel, por exemplo.

Quem não entendeu isso é um infeliz, não viveu.

Porém, há sempre a solicitação para ir a um clube ou a um ambiente onde se encontra gente bebericando, comendo sanduíches, fumando não sei o quê, contando patuscadas – como um roubou o outro, como pegou a mulher do outro, com chanchadas, etc, etc.

Eu preferi morar na Catedral a morar nesses ambientes.

Isto é a luz que dá coragem para agüentar em paz.





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