Catedrais Medievais
Catedrais góticas: síntese de fé e arte
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Catedral Santo André, Bordeaux, França |
continuação do post anterior
Nos séculos XII e XIII, a partir do norte da França, difundiu-se outro tipo de arquitetura na construção dos edifícios sagrados, a gótica, com duas características novas em relação ao românico, ou seja, o
impulso vertical e a luminosidade. As catedrais góticas mostravam uma
síntese de fé e de arte harmoniosamente expressa através da linguagem universal e fascinante da beleza, que
ainda hoje suscita admiração. Graças à introdução das abóbadas em ogiva, que se apoiavam sobre pilares robustos, foi possível elevar notavelmente a sua altura.
O impulso rumo ao alto queria convidar à oração e ele mesmo era uma prece. A catedral gótica tencionava traduzir assim, nas suas linhas arquitetônicas, a aspiração das almas por Deus. Além disso, com as novas soluções técnicas adotadas, os muros perimetrais podiam ser perfurados e adornados com vitrais policromáticos.
Em síntese, as janelas tornavam-se grandes imagens luminosas, muito aptas para instruir o povo na fé. Nelas – cena por cena – eram narrados a vida de um santo, uma parábola ou outros acontecimentos bíblicos.
Dos vitrais pintados, uma cascata de luz derramava-se sobre os fiéis para lhes narrar a história da salvação e para envolvê-los nesta história. |
Vitral da catedral de Chartres |
Outra qualidade das catedrais góticas é constituída pelo fato de que na sua construção e decoração, de modo diferente, mas coral, participava toda a comunidade cristã e civil;
participavam os humildes e os poderosos, os analfabetas e os doutos, porque nesta casa comum todos os crentes eram instruídos na fé. A escultura gótica fez das
catedrais uma “Bíblia de pedra”, representando os episódios do Evangelho e explicando os conteúdos do ano litúrgico, da Natividade à Glorificação do Senhor.
Além disso, nesses séculos difundia-se cada vez mais a percepção da humanidade do Senhor, e os padecimentos da sua Paixão eram representados de modo realista: Cristo sofredor (
Christus patiens) tornou-se uma imagem amada por todos, e
apta para inspirar piedade e arrependimento pelos pecados. Também não faltavam as personagens do Antigo Testamento, cuja história se tornou assim familiar para os fiéis que freqüentavam as catedrais, como parte da única, comum história de salvação.
Com rostos cheios de beleza, de docilidade e de inteligência,
a escultura gótica do século XIII revela uma piedade ditosa e tranqüila, que se alegra por efundir uma devoção sentida e filial pela Mãe de Deus, vista às vezes como uma jovem mulher, risonha e materna, e principalmente representada como a soberana do céu e da terra, poderosa e misericordiosa.
Os fiéis que apinhavam as catedrais góticas gostavam de encontrar aí também expressões artísticas que recordassem os santos, modelos de vida cristã e intercessores junto de Deus.
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Catedral de Santo André, Bordeaux, França |
E não faltavam manifestações “laicas” da existência; eis então que aparecem, aqui e ali, representações do trabalho dos campos, das ciências e das artes.
Tudo era orientado e oferecido a Deus, no lugar onde se celebrava a liturgia.
Podemos compreender melhor o sentido que era atribuído a uma catedral gótica, considerando o texto da inscrição gravada no pórtico central de Saint-Denis, em Paris:
“Viandante, que queres louvar a beleza destes pórticos, não te deixes ofuscar pelo ouro, nem pela magnificência, mas sobretudo pelo trabalho cansativo.
“Aqui brilha uma obra famosa, mas queira o céu que esta obra famosa que brilha faça resplandecer os espíritos, a fim de que com as verdades luminosas se encaminhem para a verdadeira luz, onde Cristo é a verdadeira porta”.
Santo Agostinho afirma:
“Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar difundida e diluída. Interroga a beleza do céu, interroga a ordem das estrelas, interroga o sol, que com o seu esplendor ilumina o dia; interroga a lua, que com o seu clarão modera as trevas da noite. Interroga os animais que se movem na água, que caminham na terra, que voam pelos ares: almas que se escondem, corpos que se mostram; visível que se faz guiar, invisível que guia. Interroga-os! Todos te responderão: Olha-nos, somos belos! A sua beleza fá-los conhecer. Quem foi que criou esta beleza mutável, a não ser a Beleza Imutável?” (Sermo CCXLI, 2: pl 38, 1134).
(Fonte: S.S. Bento XVI, Audiência Geral de 18 de novembro de 2009).
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