Estrasburgo: “Quem lhe disse isso?” ‒ “A própria torre!”
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Estrasburgo: “Quem lhe disse isso?” ‒ “A própria torre!”



Das Memórias do poeta alemão Goethe:

Um outro fatinho me roubou os últimos dias. Eu estava numa casa de campo, em companhia de pessoas agradáveis, e dali se podia ver a parte anterior de um convento e a torre [da catedral de Estrasburgo] que sobressaía majestosamente.

Alguém comentou: “Pena que não está tudo terminado e que só tenhamos a torre para ver!”

Eu, porém, disse: “Também me causa pena que não se possa apreciar essa torre inteiramente; pois as quatro volutas são muito desajeitadas e melhor seria que houvesse, no lugar delas, quatro torrezinhas esguias, bem como uma mais alta no meio, onde está aquela cruz pesadona”.

Quando fiz esse comentário com minha costumeira simplicidade, um homenzinho vivaz se voltou para mim e disse:

‒ “Quem lhe disse isso?”

Respondi: “A própria torre! Eu a tenho contemplado tantas vezes, com tanta atenção, e lhe tenho demonstrado tanta veneração, que ela um dia me confessou esse segredo evidente”.

Então, aquele homenzinho me replicou:

‒ “Ela o informou com toda a exatidão! Eu sei isso muito bem, pois sou o encarregado da construção do edifício. Tenho em meus arquivos a planta original e esta confirma o que o senhor diz, e posso mostrar-lhe”.

Por causa da minha viagem, pedi que ele fizesse aquela amabilidade a todo vapor.


Ele mandou trazer a planta valiosa.

Reconheci imediatamente as torrezinhas que faltavam e que estavam desenhadas a óleo na planta e lamentei não ter sido informado disso antes.

Mas comigo acontece sempre isso: quando contemplo e analiso as coisas, só muito depois e com muito esforço é que chego a um conceito princeps que não me seria tão notável e frutífero quanto se o tivessem explicitado antes para mim!



Fonte: Johann Wolfgang von Goethe, das memórias autobiográficas, publicadas sob o título Dichtung und Wahrheit (Poesia e verdade), in Goethe – Werke in vier Bünden, Caesar Verlag, Salzburg, 1983, vol. 1, Parte III, Livro 11, p. 190. Apud “A inocência primeva e a contemplação sacral do universo no pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira”, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, São Paulo, 2008, p. 50.




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