Os espíritos que engendraram o gótico
Catedrais Medievais

Os espíritos que engendraram o gótico



Catedral de Notre Dame de Paris, detalhe da fachada

Continuação do post anterior

Os espíritos que engendraram o gótico não se consumiam no desejo puramente estético de descobrir uma nova forma de expressão. Cumpre que constantemente tenhamos em mente a força e a vida que inspiraram esse estilo arquitetônico.

Esse imponderável elemento espiritual é que explica a arte gótica como manifestação da alma medieval. Não nos esqueçamos daquilo que mais importa: o gótico é fruto de uma época em que se reconhecia o valor de cada alma resgatada pelo Sangue do Divino Salvador.

E, até nos menores detalhes dos ornatos, esta verdade transparece. Ruskin estabeleceu a diferença que há entre os ornatos servis – gregos, ninivitas, egípcios – e os devidos ao artífice medieval.

Nem o artífice grego, por exemplo, “nem aqueles para os quais ele trabalhava podia suportar a aparência de imperfeição em qualquer coisa e, portanto, qualquer ornato... era composto de meras formas geométricas – bolas, sulcos e folhagens perfeitamente simétricas...


“Mas no sistema medieval, ou melhor, no sistema cristão de ornato, esta escravidão desapareceu completamente, reconhecendo a Cristandade, tanto nas coisas pequenas quanto nas grandes, o valor individual de cada alma. Não apenas reconhece seu valor, porém, confessa sua imperfeição...

Catedral de Notre Dame de Paris, detalhe da fachada
“Esse reconhecimento do poder perdido e da natureza decaida – que o grego ou o ninivita sentiam ser intensamente doloroso e do qual, na medida do possível, procuravam completamente se esquecer – o cristão, cada dia e cada hora, contemplando essa realidade sem temor, afinal, para a maior Glória de Deus”[1].

Recebendo esse contingente de trabalho das mãos dos verdadeiros filhos de Deus, livres do orgulho e da escravidão do demônio, com esses contributos a que não faltavam imperfeições, e reconhecendo mesmo essas imperfeições, o gótico forma um todo majestoso e cheio de harmonia.

Não se destinava este a agradar aos homens de modo carnal e terreno, mas, em um mundo impregnado de sentimento sacral, servia para favorecer a elevação da alma às alturas em que habita a Divindade.

Continua no próximo post
 
(Fonte: Catolicismo, Junho de 1960, Nº 114)


[1] John Ruskin, obra cit., Vol. II, p. 151.

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