Paray-le-Monial: onde o espírito medieval e o católico se identificam
Catedrais Medievais

Paray-le-Monial: onde o espírito medieval e o católico se identificam


Paray-le-Monial: nave central.
No abside: a pintura de Jesus Cristo no Juízo Final.
Luis Dufaur




Até que ponto o espírito medieval e o espírito católico se identificam? Até que ponto um espírito anti-medieval pode ser chamado espírito anti-católico? E até que ponto se pode ser católico sem ter o espírito medieval?

O que é o espírito da Cristandade medieval em confrontação com o espírito católico?

Uma tese que não pode ser aceita é de que a Igreja só se exprime adequadamente no estilo medieval.

Basta considerar o românico, que não é gótico. Há monumentos românicos de uma expressão católica magnífica.

Eu, quando estive em Paray le Monial, fui assistir Missa. Em Paray-le-Monial Santa Margarida Maria recebeu as revelações do Sagrado Coração de Jesus.

Durante a Missa, os meus olhos foram se pondo pela igreja como faz todo mundo, e eu fui tomado pela igreja.

O tamanho, o tipo de pedra, os arcos, não sei que imponderáveis, e eu procurando afastar a idéia para prestar atenção na Missa...

Então, me passou pela cabeça, assim como um relâmpago: “isto aqui é um monumento muito sério, muito importante, uma coisa magnífica”.

Eu sai com este começo de enlevo enfático pela igreja.


Paray-le-Monial: basílica do Sagrado Coração de Jesus. O prédio dependente é de séculos mais recentes.
Paray-le-Monial: basílica do Sagrado Coração de Jesus.
O prédio dependente é de séculos mais recentes.
Depois alguém me disse que essa igreja tinha pertencido a Cluny e que foi até uma casa mãe importante de Cluny.

Eu esbarrei em Paray le Monial e sem pensar em Cluny o que há de resto de Idade Média em mim palpitou.

Ora, não era gótico. Era pré-gótico.

Assim nós podemos ir recuando na História.

Por exemplo, uma igreja que exprime muito dignamente o espírito católico é a fachada de São João de Latrão.

Paray-le-Monial é um fiel exemplo do estilo românico das abadias de Cluny
Paray-le-Monial é um fiel exemplo do estilo das abadias de Cluny
Ela é digna, me fala na alma, menos do que Paray-le-Monial, mas fala do bom espírito católico e nada fala contra o espírito católico.

A igreja do Coração de Jesus em São Paulo, que tanto me fala à alma e que teve um grande papel na formação das minhas impressões e, portanto da minha mentalidade, não tem uma só ogiva.

Os estilos não-góticos exprimem também adequadamente princípios e aspectos da ordem do universo.

O espírito de fé nos faz ver todas as coisas de acordo com a Revelação. E nos apresenta dignamente traços da ordem do universo.

Nessa hora, a ordem do universo de um modo vago se recompõe em todo o nosso espírito.



No correr dos séculos, o espírito de fé foi se explicitando cada vez mais na arte, até aparecer o românico.

Houve assim uma longa caminhada até a manifestação do gótico, que foi a forma mais plena do espírito de fé que se conseguiu.

Deveria ter vindo depois outros estilos que a Renascença e o Protestantismo cortaram.

Depois houve um recuo com o estilo clássico neo-pagão e depois o materialismo na arte.

Então a silhueta da arte sacra foi afundando. Houve um gradual retrocesso, um gradual afundamento até o momento em que apareceu a arte moderna e começou a fazer careta.

Paray-le-Monial: o interior reflete o modelo de Cluny
Paray-le-Monial: o interior reflete o modelo de Cluny
Já não é arte sacra, é arte blasfema.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira. Texto sem revisão do autor).


A basílica do Sagrado Coração de Jesus

No ano 973 o conde Lambert de Chalon fundou um claustro que desde 999 ficou sob a autoridade da abadia de Cluny.

Nada ficou da primitiva igreja do século X. No século XI iniciou-se uma construção que deu no pórtico e nas duas grandes torres da frente completadas no século XII em estilo românico.

Nesse século começou a edificação da grande abside e do deambulatório (foto ao lado).

Os trabalhos foram muito lentos e duraram até o século XIV. Nesse período o estilo românico foi substituído pelo gótico gerando a presença dos dois estilos na basílica.

Paray-le-Monial e sua basílica são locais de muita peregrinação depois das aparições do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarita Maria Alacoque (1647 - 1690).

As romarias começaram em realidade no século XIX e Paray-le-Monial hoje é um dos locais da maior visitação religiosa na França.

Aparições do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque em Paray-le-Monial
Aparições do Sagrado Coração de Jesus
a Santa Margarida Maria Alacoque em Paray-le-Monial
Os locais de visitação e oração são, sobretudo, a capela das aparições e o túmulo do confessor da Santa, São Cláudio de La Colombière.

Sob o influxo desse fluxo de peregrinações, em 1875 a igreja foi elevada ao rango de Basílica menor, título pontifício.

A Basílica do Sagrado Coração está composta de três naves, uma central e dois laterais. Tem duas pequenas torres no lado oeste.

Ela tem 63,5 metros de cumprimento e uma largura de 22,35 metros (sem considerar o transepto que mede 40,50 metros).

A nave central atinge uma altura de 22 metros, mas a torre do transepto chega aos 56 metros.

O exterior da Basílica é tipicamente cluniacense e românico, marcado pela austeridade e o despojamento.

Outrora os muros interiores estavam pintados e algo disso ainda resta no abside, no estilo do modelo que era a abadia de Cluny, representando a Jesus Cristo julgando o mundo no grande dia do Juízo Final.



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