A catedral, imagem da Jerusalém Celeste
Catedrais Medievais

A catedral, imagem da Jerusalém Celeste


Catedral de Colônia, Alemanha
Catedral de Colônia, Alemanha
Luis Dufaur




Quem não ficou admirado contemplando, na realidade ou na fotografia, as agulhas das catedrais, ou por exemplo a do Monte Saint-Michel?

E quem não pensou nos foguetes contemplando os arcos góticos que no interior das catedrais se elevam com força retilínea rumo ao Céu?

Pois o templo católico – capela, simples igreja, abadia ou grande catedral – é uma imagem terrestre da Jerusalém Celeste.

Quer dizer, daquela cidade que contém em si todas as belezas e maravilhas da Criação e que foi arranjada por Deus para que por toda a eternidade seus filhos encontrem nela, retamente ordenadas, todas as delícias espirituais e materiais.

Esse simbolismo foi bem encarnado nas magníficas catedrais construídas por nossos antepassados. Não ousamos sequer mencionar os monstros arquitetônicos – “feios como o pecado” segundo um conhecido arquiteto americano – das últimas décadas.

Por isso nos voltamos de modo especial para as magníficas catedrais como as de Paris, Colônia, Chartres, Milão, Amiens e Beauvais para citar poucos exemplos.

As mais caracteristicamente góticas foram construídas segundo as proporções do Templo de Salomão, que a Bíblia nos transmite ecoando as instruções divinas, ou os 144 côvados da dimensão exata da Jerusalém Celeste que nos descreve o fim do Apocalipse e que simboliza o triunfo final da Igreja e das almas salvas.

Por vezes, olhando até para uma simples capelinha ou paróquia no alto de algum morro em meio à exuberante vegetação brasileira e rodeada de algumas casinhas, tem-se a impressão de que o próprio Deus a pôs ali no meio dos homens.

E ela está lá, com seu simples campanário apontando para o Céu, toda vertical, apontando para o Criador e chamando todos a se voltarem para Ele e a O visitarem em sua casa.

O apóstolo e evangelista São João, tão bem simbolizado pela águia, confirma essa impressão no encerramento do Apocalipse:

A Jerusalém Celeste, Ottheinrich Bibel, Bayerische Staatsbibliothek, Cgm 8010
A Jerusalém Celeste, Ottheinrich Bibel, Bayerische Staatsbibliothek, Cgm 8010
9. Então veio um dos sete Anjos que tinham as sete taças cheias dos sete últimos flagelos e disse-me: Vem, e mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro.

10. Levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus,

11. revestida da glória de Deus. Assemelhava-se seu esplendor a uma pedra muito preciosa, tal como o jaspe cristalino.

12. Tinha grande e alta muralha com doze portas, guardadas por doze anjos. Nas portas estavam gravados os nomes das doze tribos dos filhos de Israel.

13. Ao oriente havia três portas, ao setentrião três portas, ao sul três portas e ao ocidente três portas.

14. A muralha da cidade tinha doze fundamentos com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.

15. Quem falava comigo trazia uma vara de ouro como medida para medir a cidade, as suas portas e a sua muralha.

16. A cidade formava um quadrado: o comprimento igualava à largura. Mediu a cidade com a vara: doze mil estádios. O comprimento, a largura e a altura eram iguais.

17. E mediu a muralha: cento e quarenta e quatro côvados, segundo a medida humana empregada pelo anjo.

18. O material da muralha era jaspe, e a cidade ouro puro, semelhante a puro cristal.

Relicário do tesouro de San Giovanni, na catedral de Gênova
Relicário do tesouro de San Giovanni, na catedral de Gênova
19. Os alicerces da muralha da cidade eram ornados de toda espécie de pedras preciosas: o primeiro era de jaspe, o segundo de safira, o terceiro de calcedônia, o quarto de esmeralda,

20. o quinto de sardônica, o sexto de cornalina, o sétimo de crisólito, o oitavo de berilo, o nono de topázio, o décimo de crisóparo, o undécimo de jacinto e o duodécimo de ametista.

21. Cada uma das doze portas era feita de uma só pérola e a avenida da cidade era de ouro, transparente como cristal.

22. Não vi nela, porém, templo algum, porque o Senhor Deus Dominador é o seu templo, assim como o Cordeiro.

23. A cidade não necessita de sol nem de lua para iluminar, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua luz é o Cordeiro.

24. As nações andarão à sua luz, e os reis da terra levar-lhe-ão a sua opulência.

25. As suas portas não se fecharão diariamente, pois não haverá noite.

26. Levar-lhe-ão a opulência e a honra das nações.

27. Nela não entrará nada de profano nem ninguém que pratique abominações e mentiras, mas unicamente aqueles cujos nomes estão inscritos no livro da vida do Cordeiro. (Apocalipse, 21, 9-ss)

A prefigura dessa cidade celestial já nos é fornecida nesta terra.

Infelizmente, essa imagem que nos dá coragem na adversidade e nos conforta na estrada do Céu, foi ferozmente apagada nos prédios laicos e chatos, ideologicamente horizontais, cujo estilo foi até imitado em templos religiosos julgando que atrairiam mais fiéis, quando na realidade passam uma sensação de gélida desolação.

O contraste é flagrante ao compará-los com a leveza materna e solene de Notre-Dame de Paris, ou com a força ascensional da catedral de Colônia, na Alemanha.

A catedral, Palácio de Deus

Catedral de Chartres, França
Catedral de Chartres, França
Na pobreza de simbolismo dos dias de hoje, muito poucas pessoas ainda podem ter a oportunidade de assistir à cerimônia da consagração de uma igreja.

O progressismo contemporâneo, sem alma e sem fé, se empenha em demolir os locais sagrados e, na melhor das hipóteses, a substituí-los por prédios multiuso.

Mas, no simbolismo católico imorredouro, a igreja não é senão o templo de Deus.

E o cerimonial de sua consagração nos rememora essa verdade de um modo admirável:

Este local é terrível : é a casa de Deus e a Porta do Céu, e será chamada o Palácio de Deus. Alleluia, alleluia. (em latim: Terríbilis est locus iste : hic domus Dei est et porta cæli : et vocábitur aula Dei. Allelúia, allelúia)

Esta truculenta afirmação não é surpreendente para quem acredita verdadeiramente na Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia, conservada no tabernáculo.

Uma oração inspirada no Salmo 5 para entrar na igreja, dizia:

Eu entrarei em vossa casa, ó Senhor, e me prosternarei no vosso santo templo, e louvarei vossso nome. (em latim: Introíbo in domum tuum, Dómine ; adorábo ad templum sanctum tuum : et confitébor nómini tuo.)

Cada igreja respeitosamente arranjada nos lembra que Deus está presente nela, pois é a sua Casa, a partir da qual Ele está amando, protegendo e vigiando seu povo.

Essa presença está sempre na igreja onde se encontra o Santíssimo Sacramento, mesmo quando muitos fiéis nela compareçam em espírito de festa e desrespeito, quando não na desordem. Mas no dia do juízo pessoal deverão explicar diante o Juiz dos juízes essa falta de respeito.




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