Catedrais Medievais
O simbolismo divino na arte e na natureza visto pela Idade Média
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Rosácea lateral da catedral de Chartres: resumo da ordem do Universo com Cristo Rei no centro. |
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Luis Dufaur |
continuação do post anterior: A catedral: resumo da ordem sublime de Deus impressa no UniversoA
terceira característica da
arte medieval reside no fato de que ela é um código simbólico.
Desde o tempo das catacumbas [nos dias da perseguição romana], a arte cristã falava por meio de figuras, ensinando os homens a verem por detrás de uma imagem uma outra coisa superior.
O artista, segundo o imaginavam os Doutores da Igreja, deve imitar a Deus, que sob a letra da Escritura escondeu um profundo significado, e que queria que a natureza também servisse de lição para o homem.
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O anjo (no alto à esquerda) segura o braço de Abraão que vai sacrificar seu filho Isaac, prefigura do sacrifício do Calvário. Catedral de Chartres |
Tal concepção de arte implica uma visão profundamente idealista do esquema do universo, e a convicção de que tanto a história quanto a natureza devem ser consideradas como grandes símbolos.
Podemos fazer uma tentativa de entender a visão medieval do mundo e da natureza.
O que é o mundo visível? Qual é o significado das miríadas de formas de vida?
O que devia pensar da Criação, o monge contemplando em sua cela, ou o Doutor meditando no claustro da catedral antes de sua palestra?
É apenas aparência, ou realidade?
A Idade Média foi unânime na sua resposta: o mundo é um símbolo. Assim como a ideia da obra reside antes na mente do artista, da mesma maneira o universo estava na mente de Deus desde o início.
Deus criou, mas criou através da Sua Palavra, ou seja, através de Seu Filho.
O mundo, portanto, pode ser definido como “um pensamento de Deus realizado através da Palavra”.
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São João Batista anuncia o Cordeiro de Deus: Cristo Catedral de Chartres |
Se isto é assim, então em cada ser se esconde um pensamento divino;
o mundo é um livro escrito pela mão de Deus, no qual toda criatura é uma palavra carregada de significado. O ignorante vê as formas – as letras misteriosas – sem compreender nada do seu significado, mas o sábio, a partir do visível, se eleva ao invisível, e
na leitura da natureza lê os pensamentos de Deus. O verdadeiro conhecimento, então, não consiste no estudo das coisas em si mesmas – as formas exteriores –, mas em
penetrar no significado profundo delas, que Deus pôs para a nossa instrução.Desse modo, nas palavras de Honório de Autun, “cada criatura é uma sombra da verdade e da vida”.
Todo ser manifesta em suas profundezas um reflexo do sacrifício de Cristo, a imagem da Igreja, das virtudes e dos vícios.
O mundo material e o mundo espiritual refletem uma só e derradeira realidade.
(Autor: Émile Mâle, The Gothic Image: Religious Art in France of the Thirteenth Century, New York, Harper, 1958, pp 1-2, 5, 9-15, 29).
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