A indispensável posição monárquica do presbitério. “Feias como o pecado” X antecâmaras do Céu – 5
Catedrais Medievais

A indispensável posição monárquica do presbitério. “Feias como o pecado” X antecâmaras do Céu – 5


Altar-mor da catedral Santo Estévão de Viena, Áustria
continuação do post anterior

A igrejaarca de salvação está ordenada em função do presbitério, local do altar do sacrifício e do tabernáculo, que está dirigido para o Oriente.

É o equivalente cristão ao Santo dos Santos dos hebreus, no deserto e no Templo de Salomão.

O nível do presbitério é mais alto que o da nave. A ele se destinam os mais ricos materiais e a arte mais elaborada.

Desta forma, lembra-se ao fiel que a Igreja é hierárquica, composta de membros diferentes, sendo Nosso Senhor a cabeça, representado pelo Papa, bispos e sacerdotes, e com os religiosos e leigos cumprindo suas funções na Igreja militante.

O arquiteto Ralph Adams Cram explicou que “cada linha, cada massa, cada detalhe deve ser concebido e disposto para exaltar o altar, conduzir a ele” (U, 84).

Outro elemento indispensável no presbitério é um Crucifixo, que o Abade Suger chamava de “estandarte da salvação”.


As funções do coro e dos vitrais nas igrejas

Vitrais da capela de Nossa Senhora, catedral de Amiens, França
O Concílio de Trento dispôs que o coro e os instrumentos ficassem na galeria acima do nártex. Não é desejável que músicos e coristas sejam visíveis.

Eles devem ir à igreja como fiéis, e não como artistas. As “vozes desencarnadas” do coro evocam o canto dos anjos, proveniente de cima para baixo e ressoando de modo belo nas abóbadas da igreja.

Os vitrais ocupam um lugar especial na arquitetura eclesiástica.

O Abade Suger, na Idade Média, chamou-os “janelas radiantes que iluminam as mentes dos homens de maneira que, por meio da luz, possam chegar à percepção da luz divina”.

Ele dizia serem “sermões que tocavam o coração, através dos olhos, ao invés de entrar pelo ouvido” (U, 77). Toda outra forma artística no recinto sagrado, como pintura e escultura, está concebida para ser vista sob uma luz filtrada.

O artista deve pintar com a luz de Deus, explica o Dr. Rose. Quando o sol se põe, através dos vitrais a luz projeta figuras multicolores no interior da igreja, criando uma sensação do além, uma faísca da beleza do Céu.

Projeto de nova catedral de Belo Horizonte
Projeto de nova catedral de Belo Horizonte
O contraste do modernismo: igrejas “sem-rosto”

A seguir, o autor fornece exemplos da revolução da arquitetura eclesiástica moderna em seu país, os EUA, e que apresenta casos análogos no Brasil.

A igreja moderna não pode ser localizada a olho nu nem pelo som dos sinos. Uma sinalização Church Parking (estacionamento da igreja) avisa que a estrutura ao lado é uma “casa de culto”, e o mapa confirma que é uma moderna igreja católica.

A fachada dessa igreja é sem-rosto. Não evangeliza, não ensina, não catequiza. Até se confunde com outros prédios da rua.

A fachada é sem-rosto porque concebida para ser só uma “pele da ação litúrgica”, no linguajar da nova arquitetura. É uma estética agnóstica, que não reflete nem a tradição católica nem a História.

Arquitetos e consultores de projeto litúrgico — LDC, sigla do inglês Liturgical design consultant — de igrejas modernas evitam os símbolos católicos como o Crucifixo ou a cruz latina.

No máximo, quando colocam a cruz, ela aparecerá como um signo a ser decifrado –– por exemplo, na estrutura metálica que sustenta a vidraça exterior.

Portas da catedral de Oakland, Califórnia,
"falam" que o prédio não é sagrado
Espaços interiores mudam, segundo o capricho da moda

A arquitetura moderna apresenta portas semelhantes às de um prédio público ou supermercado.

Sandra Schweitzer, LDC na renovação da catedral dos SS. Pedro e Paulo, em Indianápolis, EUA, explicou:

“Substituímos as portas pesadas, grossas, de metal, pelas portas de vidro que dizem 'vocês são sempre bem-vindos aqui’” (U, 101). Essas portas inculcam a idéia de que o prédio não é sagrado, observa Rose.

Após essas portas, a igreja moderna inclui um espaço vasto e vazio. É um local de reunião após a Missa, bem iluminado e despojado.

Nossa Senhora Rainha da Polônia, Cracóvia.
O monstruoso ateu em lugar do belo religioso
Se há algum objeto de devoção, situa-se num canto, junto a um bebedouro, às toaletes ou a um telefone público. Nesse espaço pode encontrar-se uma fonte batismal estilo banheira.

Nos anos 80, o progressismo exaltou o batismo de imersão. A forma preferida foi a sauna, conhecida pelo nome comercial Jacuzzi.

Na verdade, como escreveu a consultora de desenho litúrgico Christine Reinhard, a pia batismal “desde o Vaticano II, tem girado um pouco por toda a igreja. De início, os litúrgicos julgavam fundamental que ela ficasse bem visível. Agora, o consenso é que a visibilidade é o menos importante...” (U, 105).

Baptistério do conjunto paroquial Santo Inácio,
Ampurias, Itália (projeto aprovado)
pode ser interpretado como outra coisa.
Um muda-muda caprichoso e errático, próprio de uma religiosidade em contínua evolução rumo ao ignoto.

A partir dos anos 90, tornou-se moda incluir obras de arte temporárias de “símbolos universalmente reconhecíveis”, como o pagão e gnóstico yin-yang, quadros de “modelos contemporâneos”, de “testemunhas do batismo”, projeções ou encenações.

Os personagens e os temas vão mudando sobre um fundo laicizante ou esquerdizante: Martin Luther King ou o teólogo contestatário Hans Kung, por exemplo.


continua no próximo post



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