Fidelidade das igrejas antigas às origens bíblicas e canônicas. “Feias como o pecado” X antecâmaras do Céu – 2
Catedrais Medievais

Fidelidade das igrejas antigas às origens bíblicas e canônicas. “Feias como o pecado” X antecâmaras do Céu – 2


São João de Latrão antiga basílica romana
símbolo do triunfo da Igreja sob o imperador Constantino
continuação do post anterior

O arcabouço do templo católico foi ditado por Moisés durante a travessia do deserto.

Ele mandou que os judeus demarcassem nos acampamentos um espaço retangular sagrado.

Numa extremidade era montada a tenda, ou tabernáculo, que continha a Arca da Aliança com as Tábuas da Lei.

Diante da tenda, erigia-se o altar do sacrifício. Este esquema guiou a construção, pelo rei-profeta Salomão, do Templo de Jerusalém, completado em 966 a.C.

Durante as perseguições romanas, os primeiros cristãos foram constrangidos a se congregarem em casas ou nas catacumbas.

Quando obtiveram a liberdade em 313, com o edito de Milão, do Imperador Constantino, eles escolheram para suas igrejas os altos, ricos e imponentes edifícios chamados basílicas.

Eram as construções mais próximas do Templo ideal. Possuíam cinco naves e uma abside reservada para os magistrados, a qual apresentava o chão elevado.


Santuário de Santiago de Compostela, Espanha
Os cristãos acrescentaram um transepto para que a planta do edifício formasse uma cruz.

No cruzamento dos braços da Cruz instalaram o altar.

Em Roma, podem-se visitar algumas das mais famosas dessas basílicas, como a de São Paulo fora dos Muros, São João de Latrão e Santa Maria Maggiore.

Essas basílicas cristianizadas constituíram o ponto de partida do estilo românico.

Neste, o teto plano foi substituído pelos arcos de meio ponto que nos remetem à abóbada celeste.

Surgiu depois o estilo gótico, com a ogiva que acena para alturas infinitas.

Ele é hierático, sacral e solene; lógico, matizado e requintado; um resumo da ordem do Universo.

O estilo barroco deu ênfase ao movimento, às cores e à estatuária, manifestando aos fiéis a proximidade do mundo sobrenatural com o terreno.

Abadia de Saint-Denis, mauseoleu dos reis da França
Luminoso, cálido e acolhedor, contrapôs-se à visão do protestantismo: ressequida, hirsuta, cinzenta e utilitária. Podemos apreciá-lo em inúmeras igrejas coloniais brasileiras.

O século XIX misturou os estilos, e até viu renascer o gótico.

A variedade foi pasmosa, mas o espírito e o ambiente das igrejas católicas continuou sempre marcado pelo recolhimento, a sacralidade e a unção sobrenatural, sinais da aprovação divina.

Esta continuidade, explica o autor, deve-se a que todos eles respeitaram os princípios da tradição arquitetônica católica.

Origens protestantes das igrejas católicas modernas

Na primeira metade do século XX apareceram igrejas em estilos modernos, desprovidas desse espírito. Como foi isso possível?

O arquiteto americano mostra que o protestantismo, estéril por natureza, foi incapaz de gerar um estilo arquitetônico próprio. Seus heresiarcas fundadores preferiram galpões sem graça.

Porém, os pastores heréticos conservaram antigas igrejas católicas usurpadas, para se darem ares de credibilidade. É a razão pela qual, no Brasil, eles construíram alguns templos de inspiração neogótica.

Até que, em meados do século XIX, um movimento interno no protestantismo reivindicou prédios mais consentâneos com o seu espírito.

Capela da Santa Cruz, Sedona, EUA
Esses templos foram construídos focalizando leitura e reunião, e não o sacrifício do altar. Eles imitam anfiteatros e auditórios.

Surgiu assim uma arquitetura “deliberadamente não-eclesiástica, sem altar, sem tabernáculo e sem presbitério” (T, 99).

Tendência análoga processava-se no modernismo católico.

“Após a II Guerra Mundial, os católicos começaram a experimentar novas formas e configurações. [...] Algumas destas experiências foram inspiradas pelo movimento liturgicista católico, e dirigidas por líderes da arte e da arquitetura modernista [...]. A estatuária foi evitada, a estrutura de basílica foi descartada e o sagrado não foi mais diferenciado do profano. Utilizando linhas retas e geometrias abstratas, arquitetos como Rudolph Schwartz e Dominikus Bohm criaram 'espaços de culto' frios e secos muito antes que estas experiências atingissem o seu auge nas décadas que seguiram o Concílio Vaticano II” (T, 100-101).

Nessas “experiências”, a piedade e a unção sobrenatural desapareceram.

continua no próximo post




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